Na guerra comercial entre os EUA e China quem se beneficia é o Vietnã

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Há alguns meses, os EUA de Donald Trump estão em guerra comercial com a China. Apesar da confiança do presidente americano em suas  declarações, ainda não dá para saber quem “vencerá” a briga. O presidente Trump prometeu, voltou atrás e agora ameaça adiar a criação de novas tarifas contra o país asiático.

O mais provável é que ninguém ganhe esta briga, pois trata-se de uma situação perde-perde, tanto para um quanto para o outro. Mas outros países asiáticos estão se beneficiando com a situação. É o caso do Vietnã, que vem lucrando com a briga sino-americana.

De acordo com o site da NBC, nos últimos 18 meses,  os profissionais do setor de tecnologia e investidores locais afirmam que o país asiático faturou alto com esta disputa.

Segundo a revista Diplomat, que cobre a Ásia, os números mostram que o saldo é positivo para o Vietnã até o momento: em dois anos, o superávit comercial do Vietnã com os EUA aumentou de US$ 31,9 bilhões (2016) para US$ 39,4 bilhões (2018), e em junho já era 39% maior que o mesmo mês do ano passado. E ainda não acabou. Em agosto, foi revelado que o Google estaria planejando transferir a produção de seus smartphones da linha Pixel da China para o Vietnã.

Em seguida, o Grab, que equivale ao Uber do Sudeste Asiático, declarou um plano de investir US$ 500 milhões no Vietnã nos próximos cinco anos.

É difícil dizer o que vem por aí, afinal sabemos que Trump é um pouco imprevisível e que as guerras comerciais são cheias de retaliações e efeitos colaterais. Neste caso, a própria boa onda do Vietnã pode mudar.  Em junho, o presidente Trump declarou que “o Vietnã explora os EUA muito mais que a China”. Portanto, não está descartado que a balança comercial volte a se movimentar em breve. O importante é que enquanto isso, o Vietnã continua recebendo  investimentos. E o interessante é que estes investimentos estão chegando até mesmo de pessoas que investem na China e que, segundo a NBC, consideram o Vietnã menos dependente do país vizinho e, portanto, menos sujeito aos efeitos negativos da guerra comercial.

Embora a indústria Tec esteja num momento próspero, as startups vietnamitas sofrem com a falta de estímulo ao setor.  Assim como alguns fabricantes de smartphones, o Vietnã copia algumas funções do “sistema operacional chinês” e o Partido Comunista vietnamita, única liderança política no país, controla o poder com pulso firme, e tem o hábito de reprimir manifestações de opositores online.

Em janeiro do ano corrente, o Vietnã aprovou uma lei que exige que empresas estrangeiras de tecnologia como Facebook e Google armazenem dados em servidores locais. Mas para os defensores de direitos humanos, o governo pode usar a lei para perseguir, ainda mais os críticos do governo.

Outro provável motivo para o Vietnã estar se beneficiando na disputa EUA-China, e tornando a guerra comercial um pouco mais penosa para os EUA, é o fato da mercadoria se tornar mais cara devido ao aumento dos impostos, e diante da perspectiva de uma tributação ainda maior, muitas empresas americanas optaram por mudar de fornecedor.

Afinal de contas, se o mercado onde você comprava aumentou os preços, e continua oscilando, não parece uma boa ideia continuar comprando ali.

Pelo mesmo motivo, é arriscado passar a fabricar algo que você nunca fez, ainda mais se não tiver dinheiro para isso. Torna-se mais vantajoso e mais em conta comprar de alguém que já tem o know-how e sabe como fazer isso de um jeito mais barato que o seu.

Sendo assim, mesmo que passem a fabricar seus produtos nos EUA, empresas como a Apple tendem a aumentar o preço caso a guerra tarifária influencie seus custos. Por exemplo: sairia mais caro produzir um iPhone em território americano do que terceirizar peças e montagem para uma Foxconn.

Com o resultado desta guerra, as empresas americanas que antes compravam da China trocaram o país pelo Vietnã para pagar “menos caro” do que se importassem seu material da China, pois antes dos impostos de Trump, a matéria-prima da China sairia mais barato.

 O Nobel de Economia Paul Krugman fez o seguinte resumo da situação em seu blog no New York Times: “Quando você taxa produtos fabricados na China mas com várias peças que vêm da Coreia ou do Japão, a montagem não muda para os Estados Unidos, só vai para outros países asiáticos como o Vietnã”. Vamos acompanhar, porque este assunto ainda vai render.

Via uol

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